Walter, Wellcome! 02/03/1972 - "A Peneira" Nº 138 - J.UM

WALTER, WELLCOME!


J.UM

Está entre nós Walter Passos. É o Walter, filho do Zé Passos e da Das Dores mesmo. Só o que tem é que não é tão cabeludo como os cabeludos daqui. Aperfeiçoou-se na arte de agradar e conquistar todo mundo. Ele é como o Israel, o Rogério e o Lolô, na especialidade de se comunicar com todo o mundo.

Os quatro anos que passou nos EEUU foram aproveitados minuto por minuto. Avaliem. Eu pensava que eu sabia um pouco de inglês e para tudo o que há nos livros e revistas continua de pé a minha crença. Mas, na questão de falar e entender acontece-me ter dificuldade de o seguir. Enquanto ele não tem nenhuma em compreender-me. Tenho jogado termos clássicos não usados em conversa e ele mata a coisa no ar, de uma bodocada. Eu tinha as minhas dúvidas quanto às opiniões diferentes sobre método antigo, sobre método áudio-visual, sobre gramática transformalista. Hoje, vejo que o FORUM, ótima revista sobre inglês e pedagogia de línguas, tem toda a razão quando tende a afirmar que qualquer língua se aprende mais depressa, mesmo quanto a ler e escrever, falando-se a língua diretamente.

Outra coisa. Meu cunhado Félix havia-me escrito que em Nova Iorque ou qualquer das grandes cidades dos EEUU o que mais se ouve nas ruas, lojas e empresas é o espanhol. Não tenho a convicção antiga muito tola de que uma língua seja mais bonita do que as outras e a elas superior. Mas acontece que o fator geográfico é um fator inevitável que conta definitivamente, junto com os meios de comunicação, para o predomínio de uma língua. Estamos tão habituados a pensar em termos de Ocidente que facilmente nos esquecemos da poderosa avalancha da raça amarela, do Japão, da China e da Índia. Mas, tirando-se a Europa, a Ásia e a África, e nesta o predomínio inglês vai crescendo, temos que admitir que o inglês é uma língua do Ocidente e que também no Ocidente é o espanhol, o italiano, fator de grande relevância para o predomínio da raça latina no futuro. Para nós brasileiros é utilíssima a generalização da língua espanhola, porquanto português e espanhol são línguas primas que não nos trazem problemas.

Walter me contou que muito se exagera aqui sobre o preconceito racial nos EEUU.

O americano é prático e não tem tempo de criticar os outros. Ele quer ver é a eficiência. Portanto, tratemos os que vão aos EEUU, de aprender inglês e habituar-nos a trabalhar. Assim, tudo será fácil.

Tenho grande prazer em poder afirmar, após vários bate papos com Walter, que o rapaz se tornou eficiente. Está apto a ser intérprete, a reger uma cadeira de inglês. Para se ensinar inglês, é necessária certa prática de conversa comum e de diálogo. A parte teórica, qualquer um aprende nos livros e prepara-se para dar a aula seguinte. Só o que há é que o Walter não é homem de ficar preso numa aula, pois quer trabalhar andando e aumentando o número de relações sociais. Estamos com um patrício valorizado, que tem muita coisa a nos contar e a nos ensinar. O Walter, felizmente, não sabe o que seja complexo. Tem o coração aberto a todo o mundo e o que deseja é conhecer mais gente e aumentar o número de amigos.

Os rapazes que se preparam para ir ao EEUU merecem nosso aplauso e colaboração. Nestes dias de viagem à lua, é necessário que o indivíduo siga o progresso das equipes e que, não só a Europa como desejava Napoleão, mas todas as nações da terra deveriam estreitar relações, para que o mundo todo viesse a ser como antes da confusão das línguas na Torre de Babel.

No Brasil, temos três unidades estupendas. A língua que é universal para nós brasileiros, a delicadeza a que se submetem todas as raças que para cá vêm, e quase uma unidade de religião. Aqui se prepara uma grande raça futura, no prognóstico de todos os que pensam em termos elevados. Tornemo-nos grandes, mantendo a bondade e aumentando a eficiência. Sem inveja a ninguém. Mas também com respeito a todos. Wellcome!