segunda-feira, 21 de março de 2011

O Livro do Filho do Bispo - 03/12/1967- "A Peneira" N° 02 - J.UM


O LIVRO DO FILHO DO BISPO 

J.UM

Guanhães - MG
            Movimentava-se Guanhães, certa feita, para receber o bispo diocesano. Reunião do povo no adro da matriz e cercanias; a postos a furiosa; pintação dos moleques; girândolas em seus lugares; expectativa geral.             Como de praxe, os senhores de mais posses e os mais guapos rapazes, em luzida cavalgada, tinham ido buscar o bispo à localidade mais próxima.
            Geral expectativa.
            Eis que, à frente da cavalgada vitoriosa, larga sotaina vermelha esvoaçando à brisa, chapéu preto de copa redonda, óculos escuros, lá surge o Senhor Bispo, imponente e sisudo.
            Dinamites, fogo nas girândolas, foguetes furando o céu azul, concertação ovante da furiosa no dobrado mais escolhido.
            Mas... o Senhor Bispo, em lugar de apear em frente da matriz, esporeia a besta árdega e some-se...
            Acontece que Dom Joaquim adoecera e adiara a visita. O Benjamim Leão aproveitou-se e passou aos guanhanenses o conto do bispo.
            Pois, se o bispo é o Benjamim, seu filho é o Dr. Inocente Soares Leão, que, com seu livro “Notas Históricas sobre Guanhães”, fez o primeiro livro sobre Guanhães, prestando um serviço à cidade, à zona e ao Estado.
            Pois, minha gente, o livro histórico é como fotografia: somente com o fundo de tempo do futuro, lhe avaliamos a preciosidade.
            Vão desaparecendo as gerações, vai-se anulando a voz da tradição, e, quando queremos recordar é muito tarde.
            Não é só isso. O livro tem valor em si. Exigiu horas de dura pesquisa. É escrito em linguagem sóbria e correta. Procura fazer justiça a gregos e troianos. Temos, agora, enfeixados todos os elementos do histórico da cidade: seu começo, datas históricas, iniciativas que para a frente a tangeram, personagens entrosadas na sua escalada. Não faltam os tipos populares, que eu chamarei o bucólico da cidade.
            Guanhães distinguiu-se, sempre, pelo anseio da instrução. Ali, quem não estudou, teve, ao menos, o pendor pelo intelecto, a apreciação do belo. Nunca se prendeu o guanhanense à febre esterilizante da moeda.
            Pois o Dr. Inocente historiou a vida da instrução da cidade, valorizou os pioneiros, abrangendo todo o antigo município de Guanhães, de que se destacaram tantos distritos; projetou as figuras dos que se distinguiram pela profissão e cultura; revelou os vultos do clero, mais atuantes e beneméritos.
            O Benjamim está de parabéns, pois casou duas vezes, terá, certamente, plantado uma árvore, e, se ainda não escreveu um livro, gerou um filho que o escreveu, sério, útil, necessário, e que será um estímulo para tanta gente nova com vibrações no cérebro e que deverá também trabalhar na perpetuação do que é nosso.
            Gostei, sinceramente, do livro, cujo introdutor diplomático não é nada mais e nada menos do que o Vulmar Coelho, vinho de boa cepa.

 

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