quarta-feira, 30 de março de 2011

Do São Bento ao Caraça : João Farias - 21/01/1968 - "A Peneira" nº 08 - J.UM

DO SÃO BENTO AO CARAÇA: JOÃO FARIAS 

 J.UM
 

Virginópolis antiga - MG
            Ora, bem! no arraial, agregamo-nos à caravana que seguia para o Caraça. Éramos: o Luís Amaral, que retornava para o quarto ano, e a turma dos novatos: Tonico e o seu Quim Bento, Zé Júlio, Zé Lourenço, Elifas, Zé e este criado de vocês, o mais matuto de todos. Íamos de calça comprida, chapéu de lebre de boa aba, ceroula chegando até o tornozelo: no Caraça era assim. Mais despedidas, sendo somente eu o chorão, ao despedir-me da Nica adorada, de Vovó Augusta, Tio Antônio e Raimunda. De véspera, mandara-me papai ao Seu Guedes para um check-up. Seu Guedes recomendava-me não comer dos cocos do Caraça, por fazerem béri-béri. Estava na sala o João Farias e estranhou me mandassem tão novo para o colégio. O Guedes, coçando a orelha, naquele seu jeito característico, acudiu: “Não faz mal, João, é assim mesmo que é bom. O estudo entra bem é na cabeça de menino”. Velho e bom Seu Guedes, caracence da gema, pai dos ricos e dos pobres, já apresentaste os comprovantes a São Pedro? 


Virginópolis antiga - MG
          Adeus, Patrocínio de Guanhães! Seu João Coelho, coitado, que sempre aplaudiu a instrução, fez-nos o bota-fora até o fim da rua da Várzea. Chamava tudo de “coisa”, por ser mais simples, talvez. “Adeus, coisa! Dá lembrança aos coisas!” “A benção, seu Joãozinho!” Seu Quim Bento, irmão do Seu Joãozinho, era o chefe da caravana, pois o Tonico lhe era filho: Já velho e pachorrento, fez-nos gastar sete dias na viagem de mais ou menos trinta e nove léguas.          
 





1º Grupo Escolar Nossa Senhora do Patrocínio em VIrginópolis

              Eta mundão de meu Deus: Penhora, Serra da Gaforina foram acidentes geográficos notáveis que desconhecíamos. Tínhamos tomado bom café na casa do Levi Pereira, e a prosa se foi animando. O Tonico era o mais entusiasmado para ser padre e sacudia os pés no estribo, o tempo todo. O Zé Lourenço, montado na bestinha do Sabino, era, vez ou outra, por ela levado até o meio dos assapeixes que a diabinha da besta empacava mais que carneiro pirracento. Arranchamo-nos no João Farias. O termo é, mesmo, “arranchar”. No rancho de tropa, ao lado do curral batia-se a trempe. Feijão no caldeirão, arroz na panela de alça, e, em primeiro lugar, fumegava o meu grande amigo, o café. Depois, à noite, prosa até a chegada do João Pestana. A gente rezando baixinho: Anjo de Deus, que sois a minha guarda. Dormir.
           
vasilhame de rancho de tropeiro

3 comentários:

  1. Meu avô Artur Teixeira foi tropeiro, e usava uma trempe igualzinha a essa guardo-a como lembrança.É uma relíquia.

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  2. Que lindas imagens gostaria de ver mais..

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  3. Sou filha de Virginopolis e tenho muito orgulho disso. Alguém aí se lembra do Vitória capeta, pois e sou filha dele.

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