Do São Bento ao Caraça: O Alifante - 26/05/1968 - "A Peneira" Nº 27 - J.UM

DO SÃO BENTO AO CARAÇA: O ALIFANTE 

J.UM

Ao apearmo-nos na portaria, quem primeiro vimos e nos recebeu foi o Irmão Mariano Curto, apelidado, não sei porque, Irmão Futrica. Quando o nosso caro amigo Elifas declinou o nome, achou-lhe muita graça o Irmão Futrica e foi logo dizendo: “Então é Alifante”. Assim se deu o segundo batismo do Elifas, e grudou-lhe como carrapatinho. Foi batizado, antes de entrar à casa.



Caraça - jardim interno 

 Os estudantes, por ser tarde de domingo, estavam no futebol, na afamada Varginha. Embarafustamos pelo enorme corredor agora deserto e fomos levados pelo nosso cicerone ao quarto do Pe. Superior. Lá nos recebeu Pe. João Vaessen, holandês sem sotaque, mas com aquela cara grave dos Centrais, por trás da qual se ocultava uma grande bondade, mas bondade à holandesa, sem a exuberante expressão brasileira. Sempre o achei parecido com Dom Bosco. Daí fomos provisoriamente para o quarto dos hóspedes, em torno ao claustro. Não levou muito tempo nos guiaram ao Refeitório, onde travamos conhecimento com o excelente pão do Caraça, com seu vinho, a farinha fabricada fora de nossa zona. No Refeitório, o grande quadro da ceia tomando o fundo todo da sala, obra do lendário Manoel da Costa Athayde, que também havia pintado a capela do Irmão Lourenço, as igrejas de Santa Bárbara e Catas Altas. Foi a primeira tela que conhecemos. Em sua singeleza é artística, sugestiva e impressionante, havendo-lhe o artista comunicado uma nota de intimidade com aquela figura simpática, natural e dengosa da morena, entre os criados que serviam a ceia, feita segundo os cânones do português amoroso e geneticamente apátrida.



Santa Ceia - Manoel da Costa Athayde

De retorno ao quarto dos hóspedes, a prosa descansada em torno do claustro, na antecipação da chegada dos conterrâneos à volta do futebol na Varginha. E lá chegaram eles. O Chiquinho Amaral, o Quim Bento Filho, o Zé Jacu, o Zé Martinho, o Jair, o Tavico, o Zé Cunha e o Dandão – do Divino -, o Milinho – do Jacaré, o Joaquim Caldeira – de Guanhães –, o Genesco – do Serro -, gente, pois, do município de Guanhães e do Serro, que tomava o nome de Colônia do Monsenhor Pinheiro.

Nossa impressionabilidade virgem tudo notava: o crescimento de uns, o nível intelectual diferenciado, a típica gíria caracense entresachada na prosa, dispondo-se-nos o espírito aos novos hábitos e a novos ângulos de vida.

janela no Caraça

Doce quadra em que tudo é sorridente, tudo boa intenção, em que a dúvida e a suspeita quase não existem, a dúvida e a suspeita que comprometem a coerência e uma razoável lógica do comportamento humano.

Meus senhores, somos, agora crisálidas oscilando entre as luzes de dois mundos, a nos transfigurarmos em risonhas borboletas caracenses.