segunda-feira, 28 de março de 2011

Do São Bento ao Caraça: A Luz Elétrica - 31/03/1968 - "A Peneira" N° 18 J.UM

DO SÃO BENTO AO CARAÇA: A LUZ ELÉTRICA


 J.UM

Em Santa Bárbara travamos conhecimento com a luz elétrica. Quando a cidade se iluminou, creio que foi nossa sensação igual à que experimentarei a bordo de um disco-voador sobrevoando a lua. Entre parênteses: há os que zombam da crença em discos-voadores. São os inteligentes demais da conta. Os para quem mostrar no firmamento Marte, Vênus, Mercúrio etc, é café pequeno. Os que andam com a cabeça doendo de tanto pensar. Os que estão completamente a par do pensamento e ambiência da era de Fernão de Magalhães, Galileu, Edson e tutti quanti. Os que sabem, de cor e salteado, os rudimentos da astronomia: que somente em nossa galáxia, há, talvez, mais de cem milhões de estrelas, cada uma um sistema solar. Que nossa galáxia tem de comprimento, 100 mil anos-luz, andando a luz à razão desprezível de 300 mil quilômetros por segundo. Que a luz da Polaris, ou estrela Polar, hoje avistada pelos europeus, zarpou de lá há 300 anos. Que a luz provinda da galáxia de Andrômeda, de lá partiu, há 700 mil anos.

Mas deixemos de esnobar, - como o Dr. Amilar é nocivo! – e digamos, simplesmente, que o mineiro, quando se admira tem razão, e que, apesar de jeca, brilha, em geral, nos estudos. Quantas piadas fizemos, ao acender-se a lâmpadazinha  pelada no rancho da tropa. Somente em Virginópolis se deu coisa menos pitoresca, oito anos mais tarde. Tinha sido nomeado zelador o Benedito Viana, baixo, balofamente gordo. Era o dia da chegada da luz. Estava ele junto ao poste, no alto de uma escada de mão, seguro pelo Joaquim Nunes. O Joaquim Nunes era um gigante de, seguramente, 1,90m, muito bom, mas por demais simples. Ora, pois, estava no alto o Benedito Viana a torcer a lâmpada e o Joaquim Nunes, em baixo, a firmar a escada. O Benedito, que nunca foi seguro de seus botões, deixou escapar um silencioso borborigmo, no momento exato em que chegava a luz.
Diz o Benedito: Custou mas chegou.
E o Joaquim Nunes, sinceramente convicto: - Chegou até com uma catinguinha!
Como o Hely Rodrigues sabia contar isso! Não é de admirar que a luz de Virginópolis tenha sido, tanto tempo, excessivamente pudica e recatada.

                                                                                                                                         
Virginópolis
                                                                 
                                                                                      
                                                                                


Nenhum comentário:

Postar um comentário