domingo, 13 de março de 2011

O Chefe é Outro - 31/01/1971 - "A Peneira" Nº 116 - J.UM



O CHEFE É OUTRO
 

J.UM



“É morto o rei. Viva o novo rei”. Assim se diria no tempo da monarquia, à morte de um rei. Hoje, pela mesma forma, se manifesta a eterna ingratidão e a curiosa infantilidade humana. Atrai-nos a novidade e nosso espírito vive de ânsias e de esperanças, na ilusão que nos faz viver, de que o dia de amanhã será melhor que o de hoje.

Se refletirmos bem sobre o sentido dessa curiosidade, chegaremos à conclusão de que, apesar de cada um de nós se julgar e sentir o centro do mundo, é a existência individual apenas uma contingência. Uma inexpressividade. O que representa um valor que fica, é a existência coletiva, é o fluir da vida em conjunto. Como os indivíduos, tem cada terra o seu destino. Para ele corre implacavelmente. O espírito dos cidadãos é um dos fatores do progresso ou do atraso de um município ou de uma cidade. O segundo fator mais importante é a qualidade da terra. A terra que tem húmus, a terra que é torrão agricultável, há de ter, mais dias menos dias, sua época de florescimento. É a grande esperança, é mesmo a certeza de Virginópolis. Relegada a um fundo de saco, na sua colocação geográfica, relacionada com as vias forçadas de importação e exportação, manteve-se, até hoje, na áurea mediocridade, honrada, forte e auto-sustentada. Durante seguidos decênios, acudiu o nosso povo ao chamamento de eleição, votou ao bater da cuia, em senadores e deputados que levavam os votos de mão beijada, sem nenhum interesse ou esforço por esta terra longínqua. Era mais do que uma injustiça: era imoralidade, violação do retorno dos benefícios, a sem-cerimônia de gozar sem trabalhar. Por esses políticos preguiçosos muito se discutiu e se brigou em tempos idos, muita antipatia se gerou. É dolorosa a vida sem sentido e a luta sem ideal. Pois bem. Tal foi nossa situação até 1930.

Em 1930, muita gente inchou a cabeça por uma revolução que prometia mudar os rumos da administração e as normas do procedimento político. Subido ao poleiro, tratou o Senhor Getúlio Vargas de tornar impossível lhe fosse feito o que os que o empurraram para o Catete haviam feito ao Senhor Washington Luiz. Em 15 anos de governo, embora queiram alguns que ele tenha jogado o Brasil para a frente, já hoje, com uma perspectiva de tempo que permite a reflexão e a análise, cada vez se arraiga mais no cérebro dos que querem pensar com justiça, que o seu governo representou uma estagnação para nossa pátria. Justamente no tempo em que pátrias enfraquecidas se refaziam e se recompunham numa rapidez espetacular.

É preciso que alguém discorde do panegírico quase geral daquele período que matou a formação democrática brasileira, deixando um ranço que até hoje perdura e atrapalha nossa marcha. Minas foi a maior vítima daquele tempo sem saudades, e Virginópolis foi completamente esquecida ao tempo de Benedito Valadares, ao ponto de atravessar largo tempo sem um juiz municipal formado. Pensaram qual o nosso prejuízo somente neste setor? Bem. Mas a hora H está soando. Em vista do desenvolvimento geral, também nós daremos alguns passos à frente. Para isso, o principal é que a mentalidade está mudando. O capital de fora há de fatalmente procurar aqui seu campo de expansão. Porque o capital é uma força atuante, dotado de expansão irreprimível como os gases. Com a correção de nossa estrada para Belo Horizonte e com o desenvolvimento indefinido de Valadares, hão de nossas possibilidades aumentar. O governo federal tem, sem trombeteamentos, procurado acertar e realizado algo de sólido. Sentimos um terreno econômico modesto, mas real e firme sob os pés. Entretanto, há forças atuantes contra o conserto da pátria. Forças que se omitiram quando era justa a sua expressão e que agora, imprudente e inoportunamente, procuram entravar o andamento da máquina. Estejamos, contudo, certos de que a democracia enérgica que sobre nós se exerce, é necessária, é remédio para se evitar o colapso do país e a queda certa e irremediável das instituições democráticas.

Aqueles que não querem o comunismo devem cooperar, na certeza de que algo de sério se está fazendo e de que, se voltarmos à democracia plena, agora, tão certo é como Deus existe que, dentro de um ano, teremos o comunismo triunfante.

É nesta atmosfera e nesta ambiência que se vai exercer a nova administração. Não faltam ao prefeito eleito as prendas necessárias para que faça um bom governo. Está aí o edifício da Prefeitura, o Mercado, a casa do delegado. E vai adiantado o Clube Popular, iniciativa necessária e oportuna, a que o Prefeito deu o seu apoio. O prefeito entrante, que tem em seu pai um bom exemplo de trabalho, acabe de calçar Virginópolis, coadjuve o serviço de água e – por que não? – não deixe o Forum se estragar. E a Televisão. Terá assim aproveitado a cota, dom do céu que não sei se irá durar muito. Bom senso, percepção de problemas mais urgentes, plano bem pensado a ser desdobrado e executado, sentido de justiça e de honestidade: isso é o que basta para que uma administração seja eficiente.

Justas esperanças nos embalam. Se o Prefeito falhar, nossa desilusão será enorme. Mas ele não vai falhar. E isso pedimos a Deus.

















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