OBRIGADO, SENHOR!
J.UM
Em frente ao painel brilhante da televisão, no mundo inteiro, centenas de milhões de pessoas observavam, com um interesse crescente, a figura humana vestida de branco que trabalhosamente descia a escada.
No último degrau, o astronauta Neil Armstrong desajeitadamente, pôs o pé direito no pé almofadado em forma de boliche, do Águia, módulo lunar do Apolo 11, que lembra uma aranha. Movendo-se, cautelosamente, com suas botas espessas e seu volumoso traje espacial, o primeiro homem na Lua examinou os arredores, à crua luz da manhã lunar. Começou, então, com cuidado, testando a agilidade na fraca gravidade, verificando, a cada passo, a resistência do solo. Pouco depois se lhe juntou seu companheiro Edwin Aldrin. Por mais de duas horas, enquanto uma câmera de televisão lhes registrava os movimentos, dispunham os dois homens o equipamento científico e tiravam, com uma concha, porções do solo lunar a ser submetido a exame na Terra.
Com o voo histórico da Apolo 11, sacudiu o homem os grilhões que o prendiam à Terra e pisou um outro mundo. De pé no solo bexiguento e sem vida da Lua, viu a Terra, adorável esfera branca e azul, dependurada num céu escuro e veludoso, sarapintado de estrelas por demais numerosas, que o homem jamais poderá contar – “nemo numerare potest”. 24 de Julho de 1969 – 5ª feira!
Conquanto tenha sido plantada na Lua a bandeira americana, transcendeu o feito os limites de um triunfo nacional, para ser um marco miliário na esquina da história humana, donde se hão de datar outros grandes cometimentos a serem realizados por um mundo novo, sob as bênçãos perenes e o sorriso satisfeito de Deus. Porque o voo Apolo 11 foi uma atordoante realização do intelecto e da ciência, que demonstrou que o homem, malgrado sua inerente limitação como criatura, é capaz de cometimentos insuspeitados, quando conjuga o espírito de equipe com a disciplina e o ânimo decidido de chegar a uma meta exeqüível. Assim é que a humanidade, de dentro da noite de talvez milhões de anos, emergiu das cavernas e das florestas para se alçar até o satélite mais próximo.
Três aparelhos científicos foram dispostos na superfície lunar: uma asa solar de experiência, de um metro e vinte de comprimento, de alumínio, para captar partículas emitidas pelo sol; um sismômetro, para registro de tremores lunares e impactos de meteoros, para transmissão à Terra; um refletor para ricochetear os raios laser enviados da Terra, para mensuração exata da distância que da Lua nos separa.
Além da colheita de material para subseqüente e acurado exame, foram deixadas lembranças da presença do homem nas paragens lunares. Uma das menores, um disco de silício, de 375 milímetros , com declarações (reduzidas de tamanho 200 vezes) de Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, juntamente com votos de líderes de 72 nações e mensagem de PauloVI, com transcrição do hino do Salmo 8º: “Quando olho para os céus, obra de tuas mãos, a lua e as estrelas, que dispusestes em seus lugares – Que é o homem, para que dele te lembres, ou o filho do homem, para que dele tomes cuidado? Fizeste-o pouco menor que os anjos e o coroaste de glória e honra. Deste-lhe o domínio sobre o trabalho de tuas mãos, pondo todas as coisas debaixo de seus pés".
Ligada ao pé da última porção do glóbulo lunar ficou a famosa divisa – “Viemos com intenções pacíficas” – assinada por Nixon e pelos astronautas.
Recolhido o material e a placa de alumínio, após duas refeições e uma tentativa infrutífera de sono, disparado com êxito o foguete de largada da Lua, subiram os astronautas ao encontro do Columbia que orbitava a Lua, à distância de 18,5 léguas, deixando lá embaixo o andar térreo do módulo, sinal da presença do homem num país de sonho. Abandonando o Águia em órbita ao satélite conquistado, arrancaram-se, no Columbia, ao puxão da gravidade lunar, retornando à Terra, abençoados por Deus e admirados pelos homens como os pioneiros da mais estupenda conquista do engenho humano de que traga registro a História.
A história Universal continuará, doravante, com o período “Atômico-espacial”, cuja primeira conquista se deu, a 4 de Outubro de 1957, quando colocaram os russos orbitando a Terra o primeiro engenho construído por mãos humanas.
Os antecedentes da conquista do espaço dentro de nossa atmosfera foram lentos e penosos, sendo fato histórico que foi Pe. Bartolomeu Lourenço de Gusmão quem conseguiu fazer elevar-se da terra, embora precariamente, o primeiro aparelho. É também fora de dúvida, embora o não admitam os americanos – Amicus Plato sed magis amica veritas – que foi Santos Dumont o pioneiro da dirigibilidade, à plena luz de Paris. Pobres como somos, sem um nacionalismo vesgo, tão impróprio desta hora de pesquisa da verdade e de tentame de entendimento e guerra aos preconceitos paralisadores, reinvindiquemos com humildade o que nos pertence e continuemos ao mesmo tempo nesse largo espírito de compreensão e simpatia que Deus nos prodigalizou.
Atrás de cada missão espacial, há anos de pesquisa paciente, milhares de horas de trabalho de equipes altamente especializadas, enormes somas de dinheiro. Por que as somas envolvidas são astronômicas, vem a pergunta dos acéfalos – “Vale a pena?” É a mesma atitude de Judas lamentando o desperdício de bálsamo com que Madalena ungia os pés do Divino Mestre: “Ut quid perditio haec? Poterat venundari et dari pauperibus”. Desculpa hipócrita, própria do ladrão farisaico. Jesus lhe deu a resposta adequada. Ainda hoje em dia, são os pobres o argumento das alas esquerdistas, justamente daqueles que por eles menos fazem.
A razão da exploração do espaço, a primeira e já bastante, é o conhecimento, a prenda maior que deve ambicionar o homem, depois da amizade de Deus. Os proventos materiais se não farão esperar, podem estar tranqüilos os que têm minguado poder de raciocínio. Quando as caravelas do Gama estavam a partir para o descobrimento da via marítima para as Índias havia, como sempre, o coro dos inimigos da dinâmica, cujas lamentações, tão gentilmente, colocou Camões na boca do velho do Restelo. Poucos anos depois, o mundo se enriquecia com produtos da Índia. Oito anos após, como consectário daquelas viagens, se descobria o Brasil e já em 1530, as humildes feitorias de São Vicente e Itamaracá atopetavam de sacos de açúcar as naus portuguesas, vindo a Europa a abastecer-se de um produto que retirava minguado de toneladas de beterraba, até então.
A acumulação de conhecimentos pelos séculos a fora, possibilitou nosso modo de vida mais confortável e abundante. À medida que desvendamos os segredos do Cosmos, acrescentamos novos volumes à enciclopédia do conhecimento, do qual reverterão novos benefícios para a humanidade.
A coisa mais linda dessa primeira odisséia foi a prece fervorosa que dos corações se elevou a Deus pela integridade dos astronautas. E os astronautas aprofundados na humildade cristã indo enfrentar riscos tremendos e jamais experimentados tinham a alma suspendida para Deus de cuja grandeza iam levantar um pequenino véu. Há dois caminhos para Deus: a fé e o intelecto. São duas estradas convergentes e não opostas. Vão encontrar-se num ângulo comum. Deus, que revelou o mundo espiritual pelo instrumento da fé, deixa-se também entrever pela luneta da ciência e da pesquisa experimental.
Senhor, eu te dou graças por ter visto o que vi. Depois do cometa de Halley em 1910, o grande turista que nos enviaste para nos deslumbrar, foi a descida à Lua o acontecimento mais luminoso de minha vida mesquinha. Obrigado, Senhor!
A Lua continuará a brilhar sem nada perder de sua beleza. E é tão bela que outra coisa não achou o profeta de Patmos prá colocar como coxim aos pés de Maria. “Mulier amicta sole et luna sub pedibus ejus”. Ela será a inspiradora do poeta e do pintor daqueles em cuja alma cantam tuas harmonias eternas de todos os verdadeiros artistas, dos gênios e dos santos. Ela trará poesia às nossas madrugadas e será como nossa lampadazinha frente à luz infinita e incessante a tua atividade criadora. Tu povoaste o céu espiritual de vintilhões de anjos e os planetas de todas as nebulosas que os telescópios humanos jamais atingirão com trilhões de entes pensantes que te adorem conosco. “Mundus est aeternus aut saltem aliqua criatura velut angelus”.
Obrigado, Senhor, por tua proteção aos astronautas. Obrigado, Senhor, por tua Lua tão bonita e tão mansa que nos deste; pelo carinho que demonstras ao Brasil, ao ponto de dizermos, com adorável ingenuidade, que Tu és brasileiro. Nós somos um povo carinhoso e confiado, apesar de nossa inconseqüência e fraqueza inenarráveis. Mas uma coisa não negarás, Senhor: é que sempre punimos por Ti e que sempre ficamos do Teu lado, e que, mais que nenhum outro povo, veneramos e amamos a Tua Mãe, que chamamos, também com nossa falta de lógica estupenda, mas adorável,
“Minha Nossa Senhora”. “Obrigado, Senhor, porque tudo é Teu”.
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