segunda-feira, 28 de março de 2011

Do São Bento ao Caraça: Santa Bárbara - 03/03/1968 - "A Peneira" N°14 - J.UM 

DO SÃO BENTO AO CARAÇA:  SANTA BÁRBARA 

J.UM
                   


Itabira antiga - MG

 De Ferros a Itabira são boas onze léguas. Itabira ainda não tinha sido honrada com o conto bestial de Viriato Correia. Por Itabira passamos. Casarões antigos.Gente de casimira pelas ruas, em pleno dia de semana. Os ferreiros fazedores de martelos e puxavantes bem torneados. O Cauê.

Seguimos pelas estradas de campo. Sempre penetrei com gosto pelo arraial da natureza. Longe da observação dos outros, sentimo-nos mais senhores de nós mesmos. Nossa individualidade reponta. Há menos inquietação e mais dignidade. A vida social, mal necessário, gregariza o homem e o estandartiza, põe-lhe recalques e servilismo.

Vejam, mesmo nas revistas, a serena dignidade dos selvagens. Não é orgulho que lhe ressumbra das feições e do olhar. É a autoconfiança, é ausência de medo. A natureza acalma e dignifica. Ainda há pouco, me contava um amigo, de dois índios que viu em Cuiabá. Percorriam as ruas, eretos e majestosos, alheios à observação dos transeuntes ou dos grupos. Eram dois soberbos espécimes de selvagens. Ficou meu amigo tão embevecido que, quando se lembrou de que trazia a tiracolo a Kodak, já era tarde. O selvagem, em certo ponto leva vida social mais completa, pois sua condição é tribal. O contato perene com a natureza corrige, contudo, os corolários inferiorizantes da vida em sociedade e mantém genuíno e sereno o selvagem.


Ao passo compassado dos animais, varando planícies e vales, furando capões de mato e capoeiras grossas, transpondo ribeirões borbulhantes escutando, a espaços, a melodia sonora e concertada da passarada, bebendo café novinho de algum tropeiro patrício, dormindo nos ranchos que pontuavam a longa estrada, ao crepitar do lume que cozinhava o feijão, quase à luz das estrelas de agosto, foi-se cumprindo nossa derrota até Santa Bárbara do Coronel Juventino Dias, de Duarte de Oliveira e do Padre Brocojó. Santa Bárbara, a meca do café nordestino, do nosso toucinho, do fumo afamado de Patrocínio de Guanhães. Santa Bárbara onde o Joaquim “Cem Quilo”, o Jaleco, o Niquinho, o Benjamin Felipe, o Tomé, o Zé Faustino, o João Paranhos, o Salate, o Samambaia, Zé Camarada e tantos outros tocadores de burro passearam a sua força, as piadas ou as suas potocas.                                                                                                                                                          
 
Santa Bárbara antiga - MG


                                                                                                                                          
                    


2 comentários:

  1. O que fazemos em vida ficará gravado para sempre na eternidade, quer seja: Memórias, sonhos e reflexões, como escreveu Jung.
    Não conheço Santa Bárbara, mas nas palavras da Autora Celina Consuelo, pude me sentir como se estivesse "la", naquele tempo presente...
    Muito bacana!
    Obrigado pela possibilidade!

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    Respostas
    1. Jorge, muito obrigada pelo comentário.
      Contudo, preciso esclarecer-lhe que o texto é do meu pai, José Rabello Campos - J.UM
      Eu criei o blog, recuperei e ordenei esta preciosa coletânea.
      Quando possível, explore outros textos e poemas, ok?
      Meu abraço de agradecimento.

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