segunda-feira, 21 de março de 2011

Dona Augusta Campos do Amaral - 24/03/1968 - "A Peneira" nº 17 - J.UM

DONA AUGUSTA CAMPOS DO AMARAL

 

  J.UM




Numa terra de excelentes professores, incontestavelmente, foi a maior. Foi a professora por cujas mãos passaram o maior número de alunos, nesta terra. Começou a lecionar aos 17 anos, tendo que casar cedo e alcançar, assim, a maioridade exigida. Tendo chegado a Patrocínio de Guanhães, como vigário, Pe. Virgolino, e vindo a conhecê-la, ficou, em poucos dias, inteirado do seu peregrino talento, e começou a ministrar-lhe lições de português e francês. Levou-a ao Serro, a fim de submetê-la a exames de habilitação perante a junta nomeada em Ouro Preto, Capital da Província. Conversando com os examinadores, contou-lhes da invulgar inteligência de sua candidata e de sua memória tenacíssima. Disse-lhe, então, um daqueles senhores: - “pois, daqui a três dias, terá sua candidata oportunidade de confirmar sua palavra. Será examinada, além do mais sobre o conteúdo deste livro”. E lhe entregou um livro novo sobre questões de ensino.
No dia do exame, argüida sobre o conteúdo do livro, sabia a examinada tudo que nele havia, com real pasmo da banca.

Dona Augusta nasceu para ensinar. Tinha, para isso, o gosto, a paixão, a paciência, a ânsia de se aperfeiçoar e de tudo transmitir. Conseguiu alfabetizar alunos de cuja aprendizagem já haviam os pais desesperado. Tirava dos livros, raros naqueles tempos, apontamentos para pontos de História Pátria, Ciências Naturais, Geografia do Brasil, Geografia de Minas, etc. Qualquer pessoa graduada ou instruída que aqui viesse, infalivelmente a visitava e jamais a esqueceria. E ela se aproveitava para pegar noções novas ou completar conhecimentos, crivando de perguntas pertinentes seus visitantes, completando-se, de tal modo, continuadamente, para a árdua tarefa de ensinar.

Houve época em que dava aulas o dia inteiro, vindo a cansar-se e a se estafar, havendo sofrido, por três vezes, graves acessos pneumônicos. Seus pulmões e suas cordas vocais, já de natureza possantes, ampliaram-se com o contínuo exercício e adquiriram uma força e sonoridade jamais vistas em outra representante do sexo frágil. Era apostolar. Além de sua numerosa família, mantinha em casa meninos, meninas e moças, filhos de amigos que moravam na roça ou em outros arraiais, pois sua fama corria meio mundo. Ministrava às meninas, na hora do recreio, lições de bordado, crochet, fabrico de flores. 

Pedra da Gaforina
Era tal sua sede de saber e sua compreensão, seu autodidatismo que, passando por terras de Farias, em 1911, em sua viagem para a aposentadoria em Belo Horizonte, e vendo a serra da Gaforina, estranhou seu marido não lhe haver revelado a existência daquele notável acidente geográfico do município de Guanhães. Chegou a conhecer o francês para ler e falar alguma coisa “au besoin”. Aposentando-se, dedicou-se ainda, anos às aulas particulares. Antes da primeira reforma do ensino em Minas, já em tempos da República, descobrira por si método novo, quase direto, de leitura, e por ele lecionava. Não houve quem mais benfizesse a Virginópolis, até hoje.

Praça Dª. Augusta Campos, em Virginópolis, ao fundo, sobrado da família Rabello Campos e Aguiar Coelho.


6 comentários:

  1. Cara Celina, sou bisneto de D. Augusta e gostaria de entrar em contato com você. Ficaria muito agradecido se você entrasse em contato (f.a.silveira00@gmail.com).
    Um abraço,
    Fernando

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  2. Veja só! Também sou bisneto de D. Augusta. Sou neto do Chiquinho, filho dela! Atenciosamente,

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  3. Olá Rodrigo,
    Muito obrigada pelo contato.É um prazer saber que um bisneto da "vovó Augusta", (assim meu pai se referia a ela, a quem não tive o prazer de conhecer) tomou contato com este blog. Lembro-me do seu avô, a quem meu pai nos ensinou a chamar de tio Chiquinho, hospedou-se algumas vezes em nossa casa, em Virginópolis e na casa da tia Lourdes, irmã do meu pai.Seu tio avô e nosso tio por afinidade também, tio Luís Amaral,hospedava-se conosco, eu era bem menina, mas tenho lembrança deles. Minha mãe, Maria Aguiar, contava que uma vez ao se despedir, já na porta, o tio Luís disse a ela: - Maria, olhe bem nos meus olhos. E minha mãe: - Por que, Luís? E ele: estou lendo o seguinte nos seus olhos - "Bem-vindo sejam os hóspedes, pelo prazer que nos dão, no dia em que se vão!" E foram muitas as risadas. Um abraço, Rodrigo. Se desejar algum contato, meu e-mail: inarabello@yahoo.com.br

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  4. Boa noite, Celina!
    Sou neta de Otávio Campos do Amaral,filho de dona Augusta. Gostaria de saber mais informações sobre minha bisavó para conhecer minhas origens.

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