Padre Bento - 16/10/1971 - "A Peneira" Nº 128 - J.UM

PADRE BENTO
 

J.UM

Pe. Bento era alto, moreno, robusto, de grande força muscular. Era destemido e tomava um gole. Muitas vezes, para atender a confissões de enfermos, atravessou o Rio Corrente a nado, quando a chuva levava alguma ponte.

Foi ele quem tirou a água do ribeirão Carioca para si, sendo que morava onde hoje é a casa Paroquial. Essa água se estendeu pela rua da Glória, que, naquele tempo, era antes um caminho. Descia uma tomada para um chafariz que ficava mais ou menos à direita da escadaria da igreja de hoje. Da outra tomada que descia pela rua da Glória havia uma tirada para outro chafariz, na atual Praça Dona Augusta, que era, anteriormente, Largo do Joãozinho Coelho.

Dados esses aspectos históricos, o que nos interessa é o fato verídico seguinte, que antes parece uma anedota.

Padre Bento tinha inimigos políticos que tinham vontade até de prendê-lo, só não o fazendo por medo da reação resoluta.

Ora, para contrariá-lo, um seu inimigo levou certo tipo sem responsabiliade a arrombar-lhe a água, dentro mesmo do seu terreiro. Padre Bento consertava a água. A água amanhecia arrombada. Assim foi indo. Certa ocasião, na estação das águas, Padre Bento passava parte da tarde a dormitar junto a uma janela de sua casa, donde avistava o terreiro.

Acordando certa hora da modorra, deu com o tal espoleta arrombando a água. Não hesitou. Levou a mão à espingarda dependurada na parede e fez fogo no arrombador. Esse, medroso de marca maior, caiu de barriga para cima e arrumou uma gritaria desesperada. Padre Bento deu-lhe de longe a absolvição: “ego te absolvo a peccatis tuis” (e aqui talvez já seja o domínio da anedota) e agora você pode ir para o meio dos infernos, seu filho da...

O medroso não levara nem um grão de chumbo, pois os familiares do padre, conhecendo-lhe a disposição, tiravam as cargas da espingarda.