RÁDIO BERRANDO
J.UM
A vida social impõe-nos limitações que visam à possibilidade de vivermos e deixarmos viverem os outros. Com o progresso da técnica multiplicaram-se as possibilidades de conforto. Esses progressos têm como alvo tornar a vida humana mais suave. Já de há muito, podemos ter nossas diversões em casa. Nesta época de descobertas, foi o rádio indiscutivelmente uma das coisas maravilhosas com que jamais poderia o homem sonhar. Sentado confortavelmente numa espreguiçadeira, você pode ouvir músicas, conferências, a mil milhas de distância. Basta sintonizar o aparelho e logo se enche o espaço de melodias e de vozes humanas, como se músicas suaves e canções estivessem caindo do espaço. Movendo o knob de estações, percorre o mundo, ouve o papa falando em Roma, Nixon conferenciando com a imprensa. Tudo isso é feito pelo mensageiro oculto a que chamamos de onda. Trouxe o rádio um novo sentido e ritmo à vida, e aqueles que mourejam durante o dia, têm à noite uma diversão caseira com a possibilidade de escolher entre programas variados e ao gosto de cada um. Pelo rádio, pegamos notícias de todas as partes do mundo.
Se você quiser aprender alemão ou ouvi-lo, você sintoniza-se com a Alemanha Ocidental... se quiser ouvir aquela língua de boca cheia e beiço inferior para a frente, basta se ajustar o indicador a Paris. Se prefere o inglês, basta ligar-se com Washington ou Nova York, ou ainda para Moscou, onde o speaker fala um bom inglês puxado de baixo do diafragma. De Viena você ouve valsas, de Varsóvia, você recebe polkas vertiginosas. Se quiser deliciar-se com músicas clássicas ou música de câmara, ligue-se com Londres ou Berlim. Da tradicional Torre de Londres às vinte horas, o carrilhão do Big Ben e a voz do speaker: "Good night, everybody".
O rádio é utilizado por todo mundo, mas poucas pessoas suspeitam os segredos que nele estão contidos e o trabalho e estudo que custou.
Isto não tem muita importância. O que tem muita importância é utilizarmo-nos do rádio, tendo em vista que o nosso conforto acaba na linha em que começa o do vizinho e que o progresso técnico demanda ajustamento moral e intelectual, para que se não converta em inferno para os vizinhos e em revolta para quem sabe respeitar o direito alheio.
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