PADRE GOMES
J.UM
Padre Gomes era santo, alegre, inteligente, bom pregador, com a palavra fácil e imaginosa, gesticulação expressiva e abundante.
Certa ocasião, foi convidado pra pregar em outra paróquia, numa festa importante. Como tinha boa memória, lembrou-se de que Monte Alverne tinha um bonito sermão sobre o assunto. Ora. Quem, naqueles tempos, nestas matas, estaria a par de sermões de Monte Alverne? Mas é que sempre houve esses homens odiosos que tudo têm e tudo guardam para pegarem a gente com a boca na botija quando menos esperamos.
Ora, pois. Lá se foi o Padre Gomes a pregar. Trazia o sermão na ponta da língua. Ensaiara-o bem, em casa, em frente ao espelho. Pregou-o tão bem e com tamanha naturalidade como se fora obra sua. Desceu da tribuna sagrada radiante. Ao pé do púlpito, porém, bem encostadinho, um padre velhinho apressa-se em abraçá-lo e cumprimentá-lo: “meus parabéns, senhor Padre. Sabe bem o seu Monte Alverne, hein?”
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