segunda-feira, 21 de março de 2011

Compadre - 08/03/1968 – "A Peneira" Nº 15 - J.UM

COMPADRE 

(Ao Jayme da Cunha Menezes, por ocasião do 1º aniversário  de sua morte)

J.UM


Tua vida era como o desenvolvimento de uma melodia sutilmente orquestrada, voando de um pico luminoso para um cume ainda mais esplendente, sob o domínio de uma inspiração harmônica surpreendente.

Desde tuas primeiras lutas com os livros, no Grupo Escolar, davas a impressão de alguém dotado de privilegiada organização cerebral. Nos Salesianos, nos longos anos que lá cursaste, foi a mesma impressão.
Tua aplicação aos estudos, teu procedimento modelar, teu aproveitamento maravilhoso, a influência simpática que irradiavas e que fazia de ti um ídolo naquele ambiente de reclusão, onde são tão bem vindos os anjos da alegria, - tudo isso marcava a tua vida nas primeiras lutas. Tudo isso era o júbilo de teus pais, pais felizes para quem não é um problema um filho ausente. Para quem o teu progresso, a tua voga, tuas vitórias constantes eram como uma coisa natural, um corolário aguardado.

Após isso, as tuas lutas no mundo, num centro grande, em meio ao atropelamento e à concorrência, no pisa-pisa da refrega por um lugar ao sol, na readaptação ao ambiente profano que não tem delicadezas, que não premia a inteligência, mas a audácia. Readaptação necessária, cursando a qual, fizeste amigos e te preparaste para a liderança em tua terra.

Para aqui vieste, como elemento de proa. Com teu instinto de trabalho e luta, com a pletora de teu dinamismo, lutaste gigantescamente. Foste alvo de incompreensão até de almas boas, que não tinham penetrado o cerne nutrido de tua bondade, a constante de tua vida.

Sim, compadre, porque eras dotado de raras e excelsas prendas, mas eras tão feliz que possuías a predominância da bondade, que se externava na tua cordialidade brincalhona, no prazer em servir, na alegria de chegar o ombro à cruz dos outros, nas encostas mais pesadas. Tua inteligência e teu coração revelaram-se na escolha da esplêndida companheira que elegeste, e que foi, realmente, a metade de tua vida, digna de ti como poucas, e feliz, porque eras digno dela. Construíste o teu lar, e, como a ave do céu, sempre o quiseste ao abrigo da rapina e da borrasca. Por ele lutaste, e lutaste por tua terra, que amanhã celebra a sua instalação como cidade. Centro da própria administração, com seu Executivo, o seu Legislativo, somente presa a Guanhães pelos laços do Judiciário.

Aqui em Virginópolis, já então comarca, foste o “primus inter pares” na arena do progresso. O Cine Lili, a televisão, o telefone, as lutas na Câmara, aí estão atestando teu idealismo e tua incrível capacidade de trabalho. Quem há por aí que te não devas favores e auxílio?

Prédio do ex-Cine Lili - criado por Jayme da Cunha Menezes

Vezado a todas as fadigas, corrias, célere, na estrada da fama, e o teu futuro se augurava esplendente na previsão da nossa amizade.

Hoje, compadre Jaime, as saudades da aventura extinta do nosso curto e inesquecível convívio, são como o rechinar de brasas na carne viva de nossos corações. Onde estavam, meu compadre, as esperanças? Hoje, já não há frestas por onde elas se filtrem na câmara escura de nossas almas. Mas a tua saudade, como os alentos que Deus infunde nas almas sofredoras, há de frutificar, no futuro de teus filhinhos e no esplendor de tua alma. Quando o sino corria o último dobre sobre o cair de tua lousa, nossos pesares terão sido na presença de Deus, o testemunho de teus merecimentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário