segunda-feira, 21 de março de 2011

Cláudia - 11/02/1968 - "A Peneira" Nº 11 - J.UM

CLÁUDIA  
  

J.UM


            Uma pausa, na viagem para o Caraça, para felicitar a Virginópolis.     
     
            Nasceu um talento para nossa terra, na virtuose do acordeon, a menina Cláudia, neta do João Rodrigues. 
         
            A gente se sente, a um tempo, humilhado e orgulhoso, inflamado e agradecido a Deus que distribui o talento como bem entende e enche a terra de beleza, com a plenitude de seus dons e de seus carismas.

            Quem sabe do esforço requerido para uma certa leitura musical e algum solfejo, fica pasmado com a precocidade de Cláudia a dedilhar com naturalidade o acordeon. Os talentos têm isso de seu, que parecem estar mais a recordar do que a aprender.

            Vem-nos, naturalmente, à lembrança a história dos gênios precoces: Carlos Gomes, ainda criança, deitando ao papel o bando palpitante das notas de sua melodia interior; Mozart, tocando violino aos cinco anos, e autor, aos quinze, de óperas e sinfonias.

            Cláudia é um talento. Ouvido apurado, segurança de ritmo, surpreendente compreensão.

            Quando relanceio os olhos ao acordeon, vem-me a impressão penosa da impossibilidade. Aquele eriçado de toquinhos, que são os baixos, mais me parece uma estacada contra o assalto ao castelo da Divina Dama. No entanto, uma criança de nove anos chispa por sobre as teclas, em esfuziadas alucinantes, e arranca de todos aqueles registros, gemidos de juriti, deixando a gente maravilhado e aturdido com a graça esvoaçante do canto e o arrulho arfante das notas harmônicas.

            Leigo em música, bárbaro ululante à porta da cidade do sonho, tenho, contudo, a certeza de que é Cláudia um talento estupendo. Livre-me Deus de violar, com insincero elogio, a alma intemerata de uma gentil criança. Todavia, será sempre o incentivo a alma da arte. Porque arte é emoção, antes de ser idéia.

            Nobre é a missão do artista, já que o destino da arte é amenizar as agruras da vida e elevar almas para Deus.

            Parabéns à Cláudia. Aplaudamo-la, porquanto ela merece aplausos calorosos. Nosso idealismo tantas vezes truncado vai eclodir nas realizações da geração nova.

            Cláudia, longo e fragoso é o caminho da arte. Mas o talento lhe vence, com galhardia, as distâncias.

            A impressão que de tua audição me ficou, funde-se na dolente melodia de Carlos Gomes suspirada naqueles versos macios:

            “Tão longe, de mim distante,
                         onde irá teu pensamento?”








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