VIVA
J.UM
A calçada tem saudades do tesouro
da tua sombra,
dos sulcos da bicicleta
que levava a glória
do teu corpo
louro.
Tua expressão
de espanto...
quando o
olhar dos passantes te despia,
e eras como Vênus
Afrodite,
cheia de espuma de platina
a clematite
de teus cabelos cariciosos
com quem amor brincava e
não se via...
O
verdureiro,
com
ar de roceiro,
e
que pasmava a te olhar,
não
era o ingênuo que cuidavas.
Ele,
astuto, te olhava
e,
no sossego da noite,
ao
lado da meeira,
te despia
também
e em ti cismava.
No silêncio
da noite,
teus ombros
redondos,
teus ombros
de luar,
eram convite
insatisfeito,
eram lindos
demais,
e os veleiros
do mar
arfavam no
teu peito.
Quanta insônia por ti!
Quanto
desejo oculto,
quando
os homens, ao longe,
divisavam
teu vulto!
Houve, sim,
muito e muito adultério,
tanto
adultério, tanto, em pensamento,
por causa do
mistério
de teu
encanto,
que o vento,
às vezes,
semi-desnudava.
Que é agora de
ti
Vênus
Calipigia?
De ti ficou a
lembrança
de teu olhar
de pássaro,
de teus
cabelos louros,
de teu jeito
de criança.
Ficou de ti a
graça
revivida no
sonho
do silêncio
da praça...
Nenhum comentário:
Postar um comentário