ORAÇÃO
J.UM
J.UM
Senhor,
eu vou fazer minha reza,
tal qual os três seguintes.
Negro
da
Costa, preto feito carvão,
pixaim
branquinho,
de
olho vidrado de velhice,
entra
na igreja.
E,
em frente do altar,
direito como toco preto de queimada,
fala
com Deus:
“Patrão,
negro véio tá aí”.
Soldado,
praça
antiga, cachaceiro,
desordeiro,
dorminhoco, alambazado,
vergonha
do Batalhão.
Entra
e vai para o meio da igreja.
Olha
para o altar-mor,
(que
para ele são três)
e,
aprumado, levando a mão direita junto à pala,
mão
esquerda comprimida contra a coxa,
ajunta
os calcanhares,
trovejando
os sapatões,
e
bate continência:
“Pronto,
Siô Comandante,
Soldado
Fulugenço se apresenta!”
Cachorro,
velho e gafento,
vem da rua apanhado,
sacudindo a vassoura.
Entra na sala, corrido.
Vai para junto do dono
bota abaixo aos pés dele.
E fica olhando, de manso,
com olhos de quem gosta muito.
Senhor!
Eu
sou o negro preto, de pixaim branquinho.
Eu
sou o praça antigo,
vergonha
da Gloriosa,
campeão
do xadrez.
Eu
sou o cão miserento,
que
vive apanhando.
Senhor!
Tu
és o meu dono,
meu
comandante
e
meu patrão.
Eu
venho a ti, Senhor!
Fico
calado, porque não sei rezar,
mas,
se eu não vier a ti,
para
onde é que eu hei de ir?
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