TIO SAM
J.UM
J.UM
Oh! que
saudades que tenho
dos meus sete
anos!
Minha avó,
a vovó melhor
que já existiu,
trouxe, de
Belo Horizonte,
naquele tempo
distante,
um brinquedo
para mim.
E nunca mais
eu vi um brinquedo assim.
Era um velhinho, de fraque vermelho,
desses
fraques que os franceses,
que não têm o
que fazer,
chamam de
pet-en-l’air.
Vestia uma
larga calça riscada,
vermelho –
branca.
Usava cartola
alta,
em cuja fita
azul,
havia um
bandão de estrelas,
muito mais
que no Cruzeiro do Sul.
O velhinho
era montado
num arame
preso em mola,
entre duas
hastes de madeira,
que em baixo
se afastavam.
Quando a
gente as apertava,
um barbante
torcido se desenrolava,
e o velho
voava em roda viva.
As abas do
fraque se abriam em leque,
e o moleque,
ele todo, era um chiste,
rodopiava com
as pernas ao léu.
E bem certo
estou eu
que foi ele o
inventor do swing e do twist.
Era uma
girante peneira,
uma
lançadeira maluca.
Ficava doido
que nem um fuso
ao movimento
confuso
de mãos de
mulher.
E quer me
parecer que o sacana do velho
se divertia a
valer.
Oh! como eu gostava dele!
Oh! como eu gostava dele!
Eu era
analfabeto,
um menino
roceiro,
e, naquelas
calendas,
eu não sabia,
é certo,
que ele não
era brasileiro.
no terreiro,
e sonhava com
ele, toda noite,
e, logo de
manhã,
antes mesmo
de lavar o rosto, já se vê,
eu botava o
velhinho naquele fuzuê.
Só após
muitos anos,
e, para falar
bem,
só depois de
eu menino ficar velho também,
descobri que
o velhinho brejeiro
era um tal de
estrangeiro,
chamado Tio
Sam.
O velhinho
imponente, aprumado, correto,
tinha
qualquer coisa de malícia no olhar.
Que velhinho
esperto!
Que velhinho
da pólvora quente,
minha gente!
hoje sei quem tu és.
Tu tens
pintado os caramujos,
neste mundo
de meu Deus, pois não?
Tu tens
caiado o padre
e rebocado o
sacristão.
Por nossa
amizade, Tio Sam,
deixa de
pisar os negros,
larga negro
de mão.
Negro tem
cabeça dura,
só se acaba
na mistura,
como aqui no
Brasil.
Ah! Tio Sam,
toma cuidado.
Não vá o amor
de tantos anos,
após mais
outros desenganos,
se alienar de
ti!
Sobretudo,
sobretudo, fica avisado:
Não mates,
Tio Sam,
mais outro
Kennedy!
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