J.UM
Lá vem a água
da Fazenda dos Campos,
da Serra do São Bento e Paraguai.
É uma serra só com dois nomes.
Serra de verdade.
Serra do São Bento, com perobas de
verdade.
Serra que verteu para a Terra
a primeira água da cabeceira da chácara.
Serra que mandou o primeiro Carioca
passear em nossas ruas,
cantar em nossos chafarizes.
Padre Bento dando tiro sem chumbo
no turbante medroso.
Zé da Cunha, com a verruga no nariz,
lavando cedinho o rosto ao chafariz.
Cozinheiras com os potes à cabeça,
esperando as companheiras,
para o break do umbigo ao fogão.
Chico Rosa, de madrugada,
correndo as bicas,
desde a rua do Buraco,
espiando, pegando os segredos da noite,
as atrapalhadas do Luís da Ritinha,
e os restos de serenata
do Artur Teixeirinha.
Quanta coisa ficou, Serra do São Bento,
que nos dás o cascalho melhor
dessas Minas Gerais, o maior,
cascalho sem igual,
que não gasta cimento.
Lá vem a água.
Será que eu era capaz,
só com linha e compasso,
traçando paralelas e perpendiculares,
trazer a água cantante,
do terreiro do Cássio,
até junto ao quintal,
do Dr. Amilar?
Que importa? Lá vem a água.
Não mais chistose, giárdia, amarelão.
As crianças, de agora em diante, terão
a pele rosada e fresca,
dentadura perfeita.
Lá vem a água da Fazenda dos Campos.
Trinta trabalhadores, de enxada e picareta.
Manilhas brilhando à noite,
à beira da estrada.
Carretéis rebrilhantes ao clarão do luar,
quebrados impiedosamente por moleques sem pais.
Vamos depressa, vamos deitá-las,
ligadas com capricho no canudo das valas.
Aí vem a tratora bulhenta, serena e certa.
E a estrada vem vindo, vem vindo em linha reta.
Onde havia o meloso, é uma fita sangrenta.
Vamos para a frente.
Sem sangue não há progresso.
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