quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Anteu - 29/09/1968 - “A Peneira” Nº 48 - J.UM



   ANTEU 

 J.UM



















Olho para o teto da noite.

As estrelas cairão

dentro de meus olhos,

uma chispa da luz vai encher

a gruta do meu peito.



Miro, depois,

no fundo da caverna,

a chispa que a estrela acendeu.

Não sei mais donde caiu

a preciosa luzerna.



Mas ela continua a brilhar.

Arde dentro da sombra

e é meu peito um salão do luar

dentro da solidão.



Envolto na treva tristonha

irei, por toda parte,

seguindo a estrada do meu sonho,

na noite debruçada no chão.





O vento do entardecer

ao balouçar do sol, ao sumir na montanha,

a brisa que encrespa as águas mansas,

furacão, que é o coração do céu,

com ecos de vozes em língua estranha,

dir-me-ão coisas que só eu sei contar.

Só eu.



Terra,

ajoelho-me e me abraço a ti.

O ouvido junto a teu peito,

entre teus seios macios.

Ouço uma voz suave

ninando o filho nos braços.

Sinto o olor de tuas tranças,

e o sorriso tranquilo,

numa paz descansada de criança.



Terra,

regaço de mulher amada,

durmo abraçado a ti.



Envolto na mantilha de teu hálito,

coberto pelas estrelas

que, adormecendo, vi

feliz no teu calor.



Quando acordar,

eu saberei mais

num silêncio maior.


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