ESCALA
J.UM
J.UM
A
tovaca cantou.
O
capim sempre-verde sorriu,
porque
a chuva chegou.
E
a gente ficou alegre:
a
vida continua.
A
tovaca deu
a
escala cromática.
Perfeita
e engrenada.
Contas
de seda e nácar
caindo
na bacia do tempo.
Melodia
una
e fechada
hermeticamente,
sem
igual.
Na
melancolia do abismo,
na
lindeza fônica
da
sedução da dúvida.
A
tovaca cantou.
Transposição
do caos,
das
vibrações latentes,
para
o cosmos
sonoro
e claro.
O
ribeirão de notas desceu,
em
ondas de veludo e nácar,
a
escala em caracol do som.
Veio
desafiando
a morte
numa
explosão de vida.
Veio
de
todos os planos do invisível,
das
profundezas dos passados,
do
fundo das idades
do
mundo de sombras
para
além do humano.
No
instantâneo irrefreável do instinto
suave
e triste
como
Sul-América.
Veio,
como o “Não” primitivo
que
antecedeu ao “Sim” da criação.
Com
o rictus final do cepticismo
em
gargalhada de megera,
em
oposição polar
à
beleza feminina
da
melodia aveludada
pingando,
em contas de seda e nácar,
na
bacia do tempo.
Canto
da tovaca.
Mulher
formosa.
Sereia
incomparável
terminando
em cauda de peixe feio.
Afirmação.
Com o travor da dúvida e do humor.
Viva
Chile... mierda!
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