DESENCANTO
J.UM
J.UM
Na minha
mente, sem aviso,
penetrou uma
luz antes ausente.
Quisera
matar-me o pai angustiado.
Por fim,
caíra exausto
na funda
poltrona.
Passado o
perigo, olhava-o.
Os ombros
trementes, soluços estrangulados,
imagem da
depressão, do desencanto,
de coluna
quebrada,
da noite que
não termina em dia.
O revólver na
cintura,
a calma
ferida de sua voz,
calma
terrível, calma forçada
de quem tem
vergonha de gritar.
Defesa do
desespero do homem injustiçado.
Pensei nela.
Sua estrela da tarde,
ali crescera.
Lera,
engolfada naquelas poltronas.
Brincara no
pátio.
Enchera a
casa de alegria.
Saíra, de
manhã, para a escola.
Saíra, toda
manhã, para o ginásio.
Absorvera as
dúvidas da cultura.
Enchera de
clichês errados
a mente
ingênua e pura.
Ele a vira
crescer. Por ela lutara.
Amara nela a
projeção de si mesmo.
E ela se
fizera bonita.
Alta,
flexível, simpática, perfeita.
E eu... e
agora era aquilo.
Pausa amarga
para pensar.
Eu que não
pensara,
que estivera
sozinho no meu egoísmo,
no meu
egoísmo ignorância.
Eu que mudara
os planos dos valores da vida,
roubando a
flor-pureza àquele ideal.
Eu decaíra do
plano de homem
Um à toa,
irresponsável.
Corpo vestido
de homem,
fantasma de
arrozal afugentando
as aves
cândidas da esperança.
Pobre criança,
mas era
tarde.
Aquele homem
bom
não matara um
covarde.
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