CANTA, SUL AMÉRICA
J.UM
Virgem banhista do Pacífico e
Atlântico
que
esposaste o Deus-Sol dos Incas,
teu filho
era o Adão primitivo,
bronzeado e
feliz.
O menino de cem anos
que nasceu da terra vermelha,
do teu
ventre boleado,
da greda das colheitas alegres.
Bonito como o riso da aurora
a eclodir cada dia
do mistério da noite.
Puro como a brisa,
lavada no hálito dos rosais,
na manhã dos jardins.
Canta, Sul América.
Detesta o ódio e a ambição
país do desespero,
das lágrimas humilhadas
e da fraqueza.
Da morte pela fome,
da técnica-opressão,
da vergonha e dos soluços da impotência
do inferno de tudo o que é pisado.
Como é lindo o teu roupão,
de ramagens azul-rosa!
Todos os povos do mundo,
todas as raças do cosmos indevassado
estão de olho em ti!
Canta, Sul América!
Ondula o corpo e os cabelos de ouro em fogo,
dança nos antiplanos dos Andes,
e nas praias meninas do Atlântico.
O Amazonas ao Norte,
o Mar da Prata ao Sul,
os rios anciãos e os ribeiros rapazes
e a meninada gaiata dos córregos,
Vocalizações fuidas,
serão o mar bravio da tua orquestra.
Nas cristas das ondas de cristal e platina
tua voz moça e requebrada
cavalgará como as walquírias do Amazonas
e as Ima Sumacs,
filhas de príncipes e netas do sol.
Menina-síntese:
arquitetura e escultura e pintura,
no fulgor do sol crepitando contra as chamas do mar.
Prodígio de forma em dezesseis decímetros,
delícia de gestos suaves,
beleza na elegia do convite.
Tua voz se gravará nos murais da lua.
Na tua flexibilidade hipnótica,
no ritmo de tua dança,
subindo os degraus,
subindo sempre,
sobe ao arranha-céu das notas atômicas.
Meninona bonita,
cabocla bronzeada de arromba,
moça selvagem e forte,
canta para a platéia do mar que o sol açoita
em labaredas de amianto.
Canta, Sul América!
E o silêncio da noite em meia terra
e a glória do outro hemisfério,
escutarão a aurora boreal
do teu canto de ouro,
na estratosfera de tua voz.
Canta.
Mas eu fico a te olhar, feliz!
Tua raça é indefinida e sutil.
Uma mistura de tudo quanto é forte no Brasil.
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