quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Na Meia-Luz - 22/09/1968 - “A Peneira” Nº47 - J.UM



 NA MEIA-LUZ 

 J.UM





  










Se houvesse

um mármore dessa cor,

eu seria escultor.

Duas colunas lisas,

penetrando, em arco,

uma enseada,

curva deliciosa,

escavada

em mármore de Carrara

de um tom raro,

de porfiro vermelho-rosa.

Gruta misteriosa,

fonte pura

de um estranho frescor.



Além, acima,

fuste acima,

pompeantes ao sol,

oferenda ao carinho do olfato,

das mãos frementes,

pomos raros

em mármore de Paros.



Duas uvas empoladas,

frutas de muito escol,

quais rubidas romãs,

ou doloridos rubis,

coroando maçãs,

túrgidas, de estranho olor.



Suco sumarento.

Esquisito sabor.

Uvas e maçãs,

pomos de escol,

rebentadas das lavas de um vulcão,

à luz mansa do sol!



Ao alto, no arrebol

do astro a se afundar na cama do poente,

o  alto capitel

ao fundo, o firmamento.

Duas estrelas já fluindo luz,

docemente.



E, pelo todo, plinto, fuste, capitel,

movimentos de alma, amplexos, carícias,

complexos, volições simbolizadas

no lavor extremado do cinzel.

Na hora verde, no pâmpano enlaçante

que envolve as formas cintilantes

das estátuas pagãs.



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