SÓ...
J.UM
Eu andava sozinho
na noite escura,
pelas ruas de pedras desiguais.
A noite era uma cortina
negra e redonda,
cheia de silêncio.
A lâmpada solitária
partia a noite ao meio,
numa tira comprida
que fazia doer o silêncio.
O silêncio era um disco
com a gravação de todas as músicas
e de todas as línguas.
Continha os poemas de Homero
e as parábolas de Cristo.
Se a agulha da lâmpada solitária
pungisse o disco escuro,
eu poderia ouvir os versos de Homero
e as palavras de Cristo,
as zombarias de Voltaire
e as gargalhadas de Schopenhauer
ao beber a cerveja do Reno.
Ah! Se a noite falasse!
As palavras tombariam
da abóbada negra e redonda,
numa chuva incessante
de inumeráveis átomos,
numa miríade de arco-íris,
fantásticas e evanescentes,
como flores caindo de
um cesto,
das arcadas misteriosas das trevas,
no lago escuro do silêncio.
Mas a noite não fala.
E o inverno tem alcatéias de noites,
como lobos pretos em reserva,
para soltar nas planícies solitárias da alma,
ladrando tristezas que se não articulam
e latindo medos
que fazem a vida inútil,
sem resposta à dúvida
sem alívio à solidão...
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