quarta-feira, 30 de outubro de 2013

No Mar - 13/10/1968 - “A Peneira” Nº 50 - J.UM



No MAR 

J.UM                                                             

À Maria Aguiar




 

Lua cheia do leite do desejo.

Estrelas longínquas,

que me fazeis criança.

Canções que não cantei.

Sínteses intentadas do concreto e abstrato.

Músicas de quando a terra começou a vagir,

em berço redondo, no balanço do espaço.

Fronteiras entrevistas do finito e infinito.

Céus escuros da Bíblia com brancos indecisos,

imprecisões de quanto é rebelde ao Efêmero.

E aquele sonho.



Planícies solitárias por debaixo da noite.

Ondulações de sombra na poeira da lua.

Vozes de fantasmas no silêncio da rua

de cidade deserta.

Odores incertos pervagantes na brisa.

Pensamentos, mensagens vibrações imprecisas.

Formas boiantes no ecran do firmamento.

Arpejos, melodias soluçantes no violino dos ventos.

E aquele sonho



Lua, estrelas, canções.

Músicas de claro-escuro.

Neblinas flutuantes sob o pálio lunar.

Berço da terra errante a vogar pelo azul.


Solitárias planícies, cidades solitárias.

Ondulações da sombra, leite louro da lua,

modulações da luz, vozes tristes da rua,

Onde está o meu sonho,

  a canção mensagem

que eu quis dizer?



Cruzeiro embandeirado, conclamando ao porvir,

Virgem que eu fiz dançar,

na ribalta espantosa dos signos do Zodíaco,

coroada da luz das meigas nebulosas,

dopada do feitiço da música das esferas,

no concurso estelar das Misses do infinito,

onde está o meu sonho?






    
Estrela que vais tristonha,

como barquinha a arfar,

velejando para as bandas do sol-por,

se encontrares, no mar,

o meu sonho...



Canário-simbolismo

da canção do ideal,

que me puseste, incauto,

a contigo cantar!

Um milhar de canções

mais claras, mais pungentes,

mais altas, mais sonoras,

tristeza cantando o riso,

alegria cantando o choro,

hão de eclodir agora

da tua garganta de ouro,

embalando, no esquife das vagas,

o meu sonho.




Nenhum comentário:

Postar um comentário