terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ai! Minha Inocência - 11/10/1970 -"A Peneira" Nº 110 - J.UM



 AI! MINHA INOCÊNCIA 

J.UM
                       


Ai! minha inocência que se quebrou !

o céu estava tão perto

e eu o julgava tão longe.



Depois, já não são todos iguais.

O homem é diferente da mulher.

Adultos não são santos para mim.



Menino-homem e menina-mulher.

E eu os julgava iguais.

Não tenho pena de uns

e morro de dó das outras,

por qualquer coisinha a tôa!



Ai! minha inocência que se quebrou.



Dezesseis anos. Homem menino.

O inferno crepitando na alma verde.

Quadros que se deslocam

na tela da candura.



Dezesseis anos.

Viagem no navio da noite

a paragens não sonhadas.

O gemido da paixão

na crista das ondas envolventes.

A voz estereofônica

do apelo-mulher,

na crista de rochedos

impossíveis

dentro do mar,

como altares proibidos.



Ai! minha inocência que se quebrou.



Depois... velhice.                                      
                            
Corpo quase menino.

Entre a vigília e o 

sonho,                                

o entrever de países estranhos

donde se não volta.



O outro mundo quase tocado com a mão.

No entanto, na lonjura dos caminhos ardentes

dos desertos sem oásis,

ainda no cérebro teimoso

o desejo e o amor. E o medo.



 Ai! minha inocência que se quebrou.




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