DODGE
J.UM
Elástico. Brilho líquido. Ronronando.
Mesmo de
mamparra deslizando,
se sentem
asas lá dentro.
Força larga
dentro dele, força comprida.
Asas dentro
dele.
Macio debaixo
de você.
Nota de dez
que estala,
ao saltar da
matriz.
Granada para
arrebentar
a pedreira da
distância.
Tigre agachado. De tocaia
Gato selvagem
fremente de cio,
macio debaixo
de você.
Força nos
ombros. Corpo de gazela.
Asas nos
ombros lustrosos e lisos.
Parado e
arfando. Quer voar
Moça de
vôlei,
moça bonita. Vaga-lume comprido.
Vaga-lume que
estala e quebra na cintura.
Moça loura e
esguia, de vestido esmeralda,
de vestido
colante. Moça macia.
Força nos
ombros de atleta,
nos músculos
clássicos, apolíneos.
Estético,
dólico, longilíneo.
Carro-moça de
salto Luís Quinze,
que se alonga
e espicha,
nas curvas,
em espiral,
faróis
fugindo em riste, sensuais.
Carro que não
acaba mais.
Carro Joan
Crawford,
dançando
Média-Luz com George Raft,
vergando para
trás, quase em looping the loop,
dançando em spot
light,
dobrando na
cintura, quase tocando o chão
com a
santidade da cabeleira enlouquecida.
Força,
agilidade, linha e beleza.
Carro-fluir,
carro vida.
Carro-poema.
Pensado, em
marijuana, por Oscar Wilde.
A estrada
foge.
Carro da
gruta dos delírios,
da mansão
assombrada da inquietação onírica,
da noite
franjada da ubiqüidade impossível,
da floração
fantástica de rotações e ritmos.
Carro impacto
da força
contra o muro
da lonjura.
A estrada
foge.
Carro que
perfura, carro que come estrada.
Verso azul
que corre.
Estrada
comprida e pirracenta.
Distância de
túnica inconsútil.
Carro tesoura
que corta em mini-saia
o vestido da
distância angustiante.
Carro
andorinha na toalha azul do céu.
Carro silvo
perfurando a noite cheirosa.
Nota aguda e
longa na pauta da estrada.
Estrada
mulher despida em strip-tease.
Carro puro sangue, carro galgo.
Aspiração-realidade:
velocidade
na solidão da
estrada indefinida,
constelações
que ficam para trás,
espectros bracejantes de árvores em fuga,
firmamento
curvando-se sobre si,
como Universo
Einsteiniano.
Carro do
agudo. Carro soprano.
Melodia que
rompe
dos
bastidores da inércia,
em
arranha-céus de escalas,
como a voz da
América,
no ulular das
Valkírias dos Andes.
Na voz de Ima
Sumac.
Carro
vencedor de Maratona.
Corredor que
veio das Termopilas
despertar
Atenas.
Força de
trezentos bravos.
Carro beija-flor, carro pena.
Carro rei dos
carros.
Jacto de luz
azul
no cristal
fosco da noite,
flecha azul
que foge.
Carro carro.
Dodge
Nota: Poema em que celebra seu encantamento com o Dodge verde do Dr. Amilar da Cunha Menezes, em que ia com seu amigo dar aulas de inglês, à noite, em Divinolândia de Minas.
Nota: Poema em que celebra seu encantamento com o Dodge verde do Dr. Amilar da Cunha Menezes, em que ia com seu amigo dar aulas de inglês, à noite, em Divinolândia de Minas.
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