CABOCLO
J.UM
Eu estava sozinho
na noite preta,
lutando com a água.
Eu vi o caboclinho d’água
no pedrão verde
no meio do rio.
Parecia índio
ou macaco
ou onça ariranha.
Não me pegou,
não me arrastou para o fundo
nem me olhou.
Mas falou.
O silêncio dele.
O pouco caso dele.
Cadê as deusas
Do teu sonhar antigo?
Mos est Virgilibus Tyriis
gestare
pharetram
purpureoque
alte
suras
vincire cothurno.
Ou em miúdo:
As virgens de Tiro
portam
a aljava ao ombro.
E
o coturno vermelho
lhes
cinge as róseas curvas.
Quéde a tua Vênus travestida,
Em tua linda caçadora Tiria,
no meio à selva selvagem
de tua vida inútil?
Cadê o livro “de omni re scibili”
ensinando ao mundo
o que é pensar?
Que é que estás fazendo
que já não morreste?
Eu fiquei só.
Na noite de breu.
Fugindo à traição
da água má.
Caboclo,
Lobis-homem
Mãe d’água
Minha vida.
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