terça-feira, 22 de outubro de 2013

Caboclo - 28/11/1970 - "A Peneira" Nº 113 - J.UM


CABOCLO 

J.UM

 















Eu estava sozinho

na noite preta,

lutando com a água.



Eu vi o caboclinho d’água

no pedrão verde

no meio do rio.



Parecia índio

ou macaco

ou onça ariranha.



Não me pegou,

não me arrastou para o fundo

nem me olhou.



Mas falou.

O silêncio dele.

O pouco caso dele.



Cadê as deusas

Do teu sonhar antigo?

Mos est Virgilibus Tyriis

gestare pharetram

purpureoque alte

suras vincire cothurno.

Ou em miúdo:

As virgens de Tiro

portam a aljava ao ombro.

E o coturno vermelho

lhes cinge as róseas curvas.



Quéde a tua Vênus travestida,

Em tua linda caçadora Tiria,

no meio à selva selvagem

de tua vida inútil?

Cadê o livro “de omni re scibili”

ensinando ao mundo

o que é pensar?



Que é que estás fazendo

que já não morreste?



Eu fiquei só.

Na noite de breu.

Fugindo à traição

da água má.



Caboclo,

Lobis-homem

Mãe d’água

Minha vida.




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