HOMEM CRUZ
J.UM
J.UM
Ao Dr. Amilar
Fantasma
do arrozal,
resíduo
dos mitos da infância
que
nos faziam banzar.
Ele
era sagrado,
na
postura hierática
do
homem-cruzeiro.
Coitado!
Colocado
entre o brejo e o céu,
zelando
a sovinice humana,
proibindo
aos passarinhos o esbulho do arroz,
o
tira-jejum da manhã,
o
prazer de estalar as bagas gostosas,
separando
as casquinhas da noz
dos
grãozinhos claritos,
daquele
jeito oblíquo
do
bico.
E
ele fica esperando, esperando
o
madurar dos grãos,
aturando
dias de sol
e
noites frias.
Fitando
as lonjuras
e
ouvindo o ribeirão.
Somente
na cheia ou na crescente,
há
noites de música pororocada,
em
bateria ritmada
da
sapalhada.
Às
vezes, passam pássaros em bando,
marrequinhos
azuis,
o
arranca-milho, o papa-arroz.
E,
às vezes, sobe à tona
em
borbulhas sonoras,
a
voz da saracura
que
aprendeu a cantar
com
o ribeirão.
À
noite, correm por sobre o charco
piripampos
e fogos fátuos,
enquanto
uma coruja antiga
enche
o escuro de arrepios
com
suas gargalhadas de bruxa desdentada
ou
gritos esguios
de
alma penada.
Na
colheita,
cortam
em feixes
as
espigas de ouro.
Levam-nas
embora,
e,
no brejo, lá fora,
inda
fica o espantalho,
um
homem em cruz,
Molambos
e retalhos
em
cruz.
Feliz
o passarinho sem complexos
que
pousou em seus ombros,
sem
medo,
fazendo
do espantalho
um
papão de brinquedo,
que
aponta à passarada,
ao
lado das estradas,
sombreadas
de escuro,
as
espigas maduras.
Poema dedicado ao Dr. Amilar da Cunha Menezes, grande amigo e admirador de J.Um, criador do Jornal "A Peneira", seu colega como Advogado e Professor do Ginásio Virginópolis e do Colégio Estadual de Divinolândia de Minas.
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