RIO
CANTAR
J.UM
J.UM
À
Maria Helena (Maria Helena Campos Coelho, sua sobrinha.)
Corre, Rio Corrente,
corre, batido da brisa que desce do poente,
para agitar os cabelos castanho-escuros das gaúchas
do Sul.
Corre, como um galo flamante,
carregando, na crista das ondas,
- canoinhas em demanda do oceano –
as folhas do outono.
Reflete as nuvens cor de rosa
e as nuvens cor de opala,
dos lados do Sul,
e os castelos que o sol oeste acende
nas estradas do azul.
Grava as montanhas cinzentas
das bordas do teu berço.
Carrega no dorso
as conversas da terra
e o silêncio do céu.
Carreia, sorridente, a memória – visão
das sereias urbanas,
flores que se abriram, no oásis da “praia”
na volúpia-martírio da entrega,
Ao amplexo das vagas:
flashes de “maiôs”
vestindo bronze e mármore,
macieiras humanas,
virginais frutescências,
frondejações maternas,
projeções
palpitantes de casulo-mulher.
Leva, no espelho de tuas águas,
a meiguice agreste das moças morenas,
o olhar cismarento de índias mansas
das
virgens roceiras crestadas de sol.
Guarda, no incunábulo de tuas sagas,
os caboclos e as modas dos sertanejos simples,
as toadas
dolentes que eu ouvi em criança.
Transporta, nos ombros verdoengos,
o manto das estrelas de vozes suaves,
as choupanas dormentes,
as choupanas contentes na fuga do sonho.
Vai
cantando dentro da noite.
Viaja bonito,
viaja, em verde,
em verde colante,
no
teu vestido caldo de cana.
Vai contar aos milênios do futuro
a beleza sem par
e a alegria do agora.
Vai,
cantando, caminho do mar.
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