terça-feira, 22 de outubro de 2013

Lisico - 06/05/1972 - "A Peneira" N° 141 - J.UM


LISICO 

J.UM















Senti que Jesus entrou. 
Foi o Lisico, o meu amigo,
o santo da rua da Glória,
o santo de Virginópolis.

Não sei porque.
Sinto a presença de Deus
no peito do Lisico.

No Caraça,
há um grande gigante deitado.

Manso, mas forte.
Recebe no peito
todas as espadadas de raios
que o céu lhe manda,
sem medo, sem orgulho,
mas sentindo a força,
a própria força,
dentro da sua grande humildade.

Ele é o guarda da serra.
É o corcovado do Caraça.
Domina, desde Catas Altas
até a Transamazônica,
cumprimenta Ouro Preto,
com o Itacolomi lindo.

Viu o maior homem do Brasil:
quando Tiradentes conspirava
o gigante do Caraça ouvia.

Viu o grande amigo
do Caraça nosso,
porque viu Saint-Hilaire.
Viu o Padre Sarneel,
Vicente Carsalade,
Artur Bernardes e Afonso Pena.
Viu os dois imperadores.
Viu o Santo bispo negro,
Dom Silvério.
Viu Costa Sena.
Viu o grande incêndio.

O guarda do Caraça
está sempre vendo a Deus.

Tudo quando é grande e forte,
no Caraça está.
Lá está o gigante deitado
que viu Santa Rita Durão.

Entrou um beija-flor em casa.
Foi o Lisico.

O gigante simboliza
tudo o que é forte e bom.
O Lisico simboliza o Cristo
pendente da cruz
com o peso todo do corpo
dependurado das mãos
e firmado nos pés,
com o grande cravo
no suporte de madeira.

O Lisico é humildade e força.
O Lisico é o amor
dependurado da cruz,
abençoando o universo
e dando força a tudo
que é bondade e pureza.

O Lisico é meu amigo,
sinto-lhe dentro do peito
a verdade palpitante:
caminho, verdade e vida.
Porque o Lisico
é a inocência do beija-flor,
é a onipotência
do amor que sofre.


Nota:
Dedicado ao Lisico, seu vizinho e amigo, filho de Dª Arminda Nunes, irmão do Padre José Nunes e que apresentava a Síndrome de Down.

Observação escrita abaixo do poema do Dr. Rabello, no Jornal “A Peneira”:

“Esta foi a última produção do nosso caríssimo J. Um, o bom amigo Dr. Rabello. O sofrimento já lhe andava consumindo a força criativa e a inspiração. Também ele, o velhinho, “teve sua onipotência do amor que sofre”. Um crisol que só Deus sabe porque o permitiu: - queria o velhinho santo. E o santo se fez, segundo a vontade de Deus, embora com muita lágrima dos seus.” ( 06/05/72).



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