LISICO
J.UM
J.UM
Senti que Jesus entrou.
Foi o Lisico, o meu amigo,
o santo da rua da Glória,
o santo de Virginópolis.
Não sei porque.
Sinto a presença de Deus
no peito do Lisico.
No Caraça,
há um grande gigante deitado.
há um grande gigante deitado.
Manso, mas forte.
Recebe no peito
todas as espadadas de raios
que o céu lhe manda,
sem medo, sem orgulho,
mas sentindo a força,
a própria força,
dentro da sua grande humildade.
Ele é o guarda da serra.
É o corcovado do Caraça.
Domina, desde Catas Altas
até a Transamazônica,
cumprimenta Ouro Preto,
com o Itacolomi lindo.
Viu o maior homem do Brasil:
quando Tiradentes conspirava
o gigante do Caraça ouvia.
Viu o grande amigo
do Caraça nosso,
porque viu Saint-Hilaire.
Viu o Padre Sarneel,
Vicente Carsalade,
Artur Bernardes e Afonso Pena.
Viu os dois imperadores.
Viu o Santo bispo negro,
Dom Silvério.
Viu Costa Sena.
Viu o grande incêndio.
O guarda do Caraça
está sempre vendo a Deus.
Tudo quando é grande e forte,
no Caraça está.
Lá está o gigante deitado
que viu Santa Rita Durão.
Entrou um beija-flor em casa.
Foi o Lisico.
O gigante simboliza
tudo o que é forte e bom.
O Lisico simboliza o Cristo
pendente da cruz
com o peso todo do corpo
dependurado das mãos
e firmado nos pés,
com o grande cravo
no suporte de madeira.
O Lisico é humildade e força.
O Lisico é o amor
dependurado da cruz,
abençoando o universo
e dando força a tudo
que é bondade e pureza.
O Lisico é meu amigo,
sinto-lhe dentro do peito
a verdade palpitante:
caminho, verdade e vida.
Porque o Lisico
é a inocência do beija-flor,
é a onipotência
do amor que sofre.
Nota:
Dedicado ao Lisico, seu vizinho e amigo, filho de Dª Arminda Nunes, irmão do Padre José Nunes e que apresentava a Síndrome de Down.
Observação escrita abaixo do poema do Dr. Rabello, no
Jornal “A Peneira”:
“Esta foi a última
produção do nosso caríssimo J. Um, o bom amigo Dr. Rabello. O sofrimento já lhe
andava consumindo a força criativa e a inspiração. Também ele, o velhinho,
“teve sua onipotência do amor que sofre”. Um crisol que só Deus sabe porque o
permitiu: - queria o velhinho santo. E o santo se fez, segundo a vontade de
Deus, embora com muita lágrima dos seus.” ( 06/05/72).
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