sábado, 23 de novembro de 2013

Prefácio - Outubro de 2004 - Dr. Amilar da Cunha Menezes


PREFÁCIO


Amilar da Cunha Menezes



Dr. Amilar da Cunha Menezes
















                      Cultura exponencial deste quadrante das Minas Gerais. Impossível retratar Dr. Rabello, prefaciando singela homenagem, ora lhe prestada. Não se trata, pois, aqui, de prefácio a esparsas publicações, coligidas aqui e ali. Feliz lembrança inserida na programação do Festival da Jabuticaba de 2004, ao ensejo do centenário de seu nascimento. Na carência de um museu de imagem e de som, demandaria, este tributo de admiração inenarrável, de muito tempo e preparo para o registro da saga deste compêndio de cultura.
Os anais de nossa história pátria, sempre pecaminosos, lamentavelmente têm sido feitos de boca a boca, de pai para filho. E os que privaram de tão gratificante convívio se vão rareando. E as novas gerações ficam no imaginário. Quase sempre, narrativas desprovidas de conteúdo suculento que traduzam a grandeza de um personagem da magnitude deste luminar, patrimônio nosso.
Assim, desnecessárias se tornam análises em torno do que conseguiram reproduzir da lavra “rabelineana”. Aqui, tão apenas modesto enfoque da maior representatividade de uma cultura humanista e universal. Pinceladas sobre o prodigioso talento do São Bento. O seu despontar iluminado nas colinas do Caraça – verdadeiro Olimpo, berço greco-latino de seu cabedal humanista. De sabença geral as incontáveis personalidades, da maior projeção no cenário nacional, e que por lá passaram, antes, durante e empós. Ao depois, o professor -  primus inter pares -. Campo de ação e valoroso tirocínio do magistério pela Capital mineira. E, na esteira do saber, de lá trouxe seus diplomas de bacharel, mestre, incluindo patente militar de Coronel.
E Virginópolis recebe o Doutor “de omni re scibili “. Porta-voz de sua e nossa terra, em qualquer recepção de gala. O intérprete para o visitante, fosse grego, alemão, francês ou de fala shakespereana. Advogado por profissão, tribuno por vocação. Cicerone seguro na emancipação política de Virginópolis, na condução dos conterrâneos pelas seguras trilhas parlamentares da edilidade. Pelas tribunas forenses, o imbatível defensor. Pelas tertúlias e congraçamentos e solenidades oficiais, o orador incomparável. Na crônica jornalística (apud “A Peneira”), a expressão castiça da palavra fácil. Poeta de entrelaçar inspiração e reprodução. Leveza no flauteado da composição lírica. Estuante na trompa da epopéia a ecoar pelo universo (“Balada do Canário do Reino”). Regente em corais, arranjador de polifonia sacra. Um hobby em sua dimensão polivalente.
Dr. Rabello foi erigido por Deus, para Virginópolis. Trazendo à baila as palavras do vate da arte poética, reproduzidas pelo homenageado, em discurso por ele proferido há 35 anos: “Para nós, tem ele um nome mais eterno que o bronze. Mais sobranceiro que as pirâmides faraônicas, que não poderá derruir a chuva desgastante. Ou o Aquilão desenfreado ou a inumerável série dos séculos e a fuga dos milênios”.
Quando da sua mudança de residência, da terra para os páramos celestiais, “A Peneira”, periódico nosso que era dele, registrou, no enlutado abril de 1972: “Virginópolis em eclipse. Seu grande sol se escondeu atrás da cordilheira da morte. O maior luminar desta terra, o gênio desta região, a enciclopédia, poliglota, tribuno, jornalista. O orgulho patrocinense. Nosso intelectual, nossa cultura, nossa tradição e representação maior. Só Deus sabe quantas gerações se sucederão até que apareça outro vulto semelhante”.
O sábio que jamais deixou de ser estudante. Obstinado pelo saber. Até a hora em que fechou o livro da vida, e se apressou, e nos deixou para trás, indo para mais perto de Deus – de quem nunca se desgarrou – lá se completou. E continuou a representar a sua terra na Embaixada do esplendor, das luzes, das letras, artes, ciência, música... O arremate do bom e do belo. Do amor e do saber sem fim.


Nota: Dr. Amilar, brilhante Advogado e grande amigo, atendeu prontamente ao nosso pedido,  prefaciando o livro que pretendíamos  lançar, na comemoração do centenário de nosso pai, no Festival da Jabuticaba de 2004 e que foi adiado por termos descoberto, às vésperas da festividade, grande número de textos escritos por ele. 
 Celina Rabello  

  


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