PREFÁCIO
Amilar da Cunha Menezes
Amilar da Cunha Menezes
Cultura exponencial deste quadrante das Minas Gerais. Impossível retratar Dr. Rabello, prefaciando singela homenagem, ora lhe prestada. Não se trata, pois, aqui, de prefácio a esparsas publicações, coligidas aqui e ali. Feliz lembrança inserida na programação do Festival da Jabuticaba de 2004, ao ensejo do centenário de seu nascimento. Na carência de um museu de imagem e de som, demandaria, este tributo de admiração inenarrável, de muito tempo e preparo para o registro da saga deste compêndio de cultura.
Os anais de nossa história pátria,
sempre pecaminosos, lamentavelmente têm sido feitos de boca a boca, de pai para
filho. E os que privaram de tão gratificante convívio se vão rareando. E as
novas gerações ficam no imaginário. Quase sempre, narrativas desprovidas de
conteúdo suculento que traduzam a grandeza de um personagem da magnitude deste
luminar, patrimônio nosso.
Assim, desnecessárias se tornam
análises em torno do que conseguiram reproduzir da lavra “rabelineana”. Aqui,
tão apenas modesto enfoque da maior representatividade de uma cultura humanista
e universal. Pinceladas sobre o prodigioso talento do São Bento. O seu
despontar iluminado nas colinas do Caraça – verdadeiro Olimpo, berço
greco-latino de seu cabedal humanista. De sabença geral as incontáveis
personalidades, da maior projeção no cenário nacional, e que por lá passaram,
antes, durante e empós. Ao depois, o professor - primus inter
pares -. Campo de ação e valoroso tirocínio do magistério pela Capital
mineira. E, na esteira do saber, de lá trouxe seus diplomas de bacharel,
mestre, incluindo patente militar de Coronel.
E Virginópolis recebe o Doutor “de
omni re scibili “. Porta-voz de sua e nossa terra, em qualquer
recepção de gala. O intérprete para o visitante, fosse grego, alemão, francês
ou de fala shakespereana. Advogado por profissão, tribuno por vocação. Cicerone
seguro na emancipação política de Virginópolis, na condução dos conterrâneos
pelas seguras trilhas parlamentares da edilidade. Pelas tribunas forenses, o
imbatível defensor. Pelas tertúlias e congraçamentos e solenidades oficiais, o
orador incomparável. Na crônica jornalística (apud “A Peneira”), a
expressão castiça da palavra fácil. Poeta de entrelaçar inspiração e
reprodução. Leveza no flauteado da composição lírica. Estuante na trompa da
epopéia a ecoar pelo universo (“Balada do Canário do Reino”). Regente em
corais, arranjador de polifonia sacra. Um hobby em sua dimensão polivalente.
Dr. Rabello foi erigido por Deus, para
Virginópolis. Trazendo à baila as palavras do vate da arte poética,
reproduzidas pelo homenageado, em discurso por ele proferido há 35 anos:
“Para nós, tem ele um nome mais eterno que o bronze. Mais sobranceiro que as
pirâmides faraônicas, que não poderá derruir a chuva desgastante. Ou o Aquilão
desenfreado ou a inumerável série dos séculos e a fuga dos milênios”.
Quando da sua mudança de residência, da
terra para os páramos celestiais, “A Peneira”, periódico nosso que era dele,
registrou, no enlutado abril de 1972: “Virginópolis em eclipse. Seu grande sol
se escondeu atrás da cordilheira da morte. O maior luminar desta terra, o gênio
desta região, a enciclopédia, poliglota, tribuno, jornalista. O orgulho
patrocinense. Nosso intelectual, nossa cultura, nossa tradição e representação
maior. Só Deus sabe quantas gerações se sucederão até que apareça outro vulto
semelhante”.
O sábio que jamais deixou de ser
estudante. Obstinado pelo saber. Até a hora em que fechou o livro da vida, e se
apressou, e nos deixou para trás, indo para mais perto de Deus – de quem nunca
se desgarrou – lá se completou. E continuou a representar a sua terra na
Embaixada do esplendor, das luzes, das letras, artes, ciência, música... O
arremate do bom e do belo. Do amor e do saber sem fim.
Nota: Dr. Amilar, brilhante Advogado e
grande amigo, atendeu prontamente ao nosso pedido, prefaciando o livro
que pretendíamos lançar, na comemoração do centenário de nosso pai, no
Festival da Jabuticaba de 2004 e que foi adiado por termos
descoberto, às vésperas da festividade, grande número de textos escritos por ele.
Celina Rabello
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