BALADA DO CANÁRIO DO REINO
J.UM
À Natália Campos
É um novelo de oiro pálido,
no puleiro da gaiola, de noite.
É o chicote enrolando
a corda da melodia para o açoite.
O galo cantou, primeiro, no terreiro:
São Pedro. Jesus.
Quando a frincha da janela,
deixar passar a luz, através,
será a minha vez.
Galo.
Você é o bedel da Faculdade do Dia.
Eu sou a quarta dimensão.
Senhora Dona da Casa,
abra a torneira:
eu vou duetar com a água.
Vou metralhar de semifusas
Vou furá-la de sons fosforescentes,
como peneira encantada.
Vou mandar, nas ondas magnéticas,
uma horda de mensagens polifônicas,
para as galáxias da barra da saia
do espaço redondo.
Vou atirar uma echarpe de seda
toda azul
nos braços do Cruzeiro do Sul.
Vou desenhar nele
o Kennedy crucificado,
bonito como o Cristo do Corcovado,
coroado
com o auriverde pendão da minha terra,
abrindo os braços
a quinhentos milhões de nebulosas.
gotejantes de notas sangrentas
as estradas azuis da cúpula do mundo.
Vou arremessar aos ares
foguetes espaciais
de fusas e semifusas.
Vou garatujar na Lua
o palhaço do Gagárin,
com um martelo na orelha
e a foice no pescoço,
para a adoração prostituída
do infinito – negativo dos parvos.
uma lagarta de fogo, em notas multicores.
Vou enfeitar de barbelas cintilantes
a lança do sagitário.
Vou farpear uma bandarilha
a lança do sagitário.
Vou farpear uma bandarilha
de músicas dolentes de Espanha
no toutiço enrugado do Touro de abril.
Vou escrever as notas da escala
nos degraus dos Sete Céus,
amarrar um bambolê de notas inflamadas
na cauda do Leão,
o Scorpio complexado.
Vou guizalhar-lhe a cauda
numa loucura de crótalos sonoros.
Vou colar um losango de semínimas,
entrançadas em Signo-Saimão,
entre os cornos do Capricórnio.
Vou mandar minhas notas, em surdina,
em fogos de lágrimas,
a melodia mais suave,
a música mais fina
notas em pétalas de rosa,
de rosa purpúrea e bela
entre os goivos da campa do Ideal.
Meu canto é um vaquejar de estrelas,
pelos sertões do céu
farpeados de cometas.
Vou acordar as sinfonias dormitantes
nas dobras da túnica do Universo.
Vou ritmar, em velocidades de loucura,
as tempestades lancinantes de Wagner
e os oráculos oníricos de Beethoven.
Vou tecer, de arabesco de colcheias,
Vou tecer, de arabesco de colcheias,
uma brassière de sustenidos,
rendilhada de arpejos e gemidos.
rendilhada de arpejos e gemidos.
Vou cingir-lhe
ao mármore santo dos ombros
uma bandana de seda aurifulgente.
Ela vai dançar, num saracoteio de virgem dopada,
como as Coribantes de outrora
na passarela do Zodíaco,
para estremecer
a plateia cor de opala
das galáxias pensativas.
Porque eu sou a quarta dimensão:
preexisto à plasmação dos Cosmos.
Sorri, quando Criador fez a luz,
cantei, quando Deus criou o som.
num clangor de relinchos e de
trompas,
trompas,
no ulular feminino das Bacantes,
a cavalgada louca das Valquírias.
Por entre o alarido
dos cometas desgrenhados
e o esborôo dos sistemas fumegantes,
ao tumulto dos conflitos estelares,
ao impacto dos sois moribundos,
ao chamejar das nebulosas na negridão
do espaço.
Vou acordar,
com o tumulto de fanfarras clamorosas,
o silêncio aterrante,
o silêncio eterno
desses espaços infinitos,
com este meu quérulo gorjeio,
- pipilante angústia do Efêmero,
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